Em Prol da Saúde
Copo de ventosa com seringa

Sangrar, mais do que uma prática, foi considerada uma arte, cujo mérito poderia ser apreciado por todos quantos tivessem a possibilidade de se familiarizar com o seu poder curativo, através da observação dos seus efeitos nos outros ou em si mesmos.
Desde Hipócrates – que recomendava a sua aplicação, nos seios, a todas as mulheres que padecessem de excesso de fluxo menstrual – que o mundo ocidental sangrava recorrendo à utilização de ventosas; e, ao chegar ao final do século XIX, extenso era já o número de doenças que se anunciava aliviar e curar: asma, angina de peito, apoplexia, catarro, cólicas, contusões, delírios, enxaquecas, gota, letargia, lumbago, reumatismo, sarampo, surdez, tosse, entre muitas outras.
Têmporas, nuca, atrás das orelhas, garganta, pescoço, mãos, pés, queixo, peito, abdómen, costas, quadris, coxas, períneo e sacro eram as partes do corpo destinadas a receber tratamento com os copos de ventosa. Estes, habitualmente em vidro, possuíam um rebordo espesso – de forma a minimizar desconforto ou dor aquando da sua remoção – e podiam variar entre os 4,5 e os 7,5 centímetros de altura.
Para seu conforto, o paciente permanecia deitado enquanto instrumentos de corte, tais como lancetas ou escarificadores, incisivamente rasgavam a pele e, ao fluir do sangue, a sanguessuga de vidro (também assim chamado aos copos de ventosa) aproximava-se com um pavio no seu interior, para criar vácuo e permitir a sua aderência. Toda a complexidade deste procedimento – a implicar experiência, delicadeza e equilíbrio – foi facilitada pela introdução de um orifício com torneira que permitia, através da acoplação de uma seringa, a sucção do ar.
Esta peça, um testemunho desta prática, que se manteve até aos anos 30 do século XX, integra a Unidade de Gestão de Ciência e Tecnologia do Museu de Angra do Heroísmo.